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quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

COMPANHIA CINEMATOGRÁFICA ATLÂNTIDA

Era o dourado Rio de Janeiro, a Capital Federal,
Era o carnaval carioca a famosa festa planetária.
Nascia a Atlântida feito ligeira comédia musical.
Era a chanchada, o filme menor, arte secundária
Que lotava os auditórios dos cinemas brasileiros.
Gentis anos cinquenta entre jardins de roseirais,
Entre folias de rua e luzes de circo em picadeiros.
Atlântida das comédias pastelão pelas matinais
A arder qual chama azul do sonhar em floração.
Atlântida a despertar visões da infância em nós,
A gotejar notas de viola pelos beirais da solidão,
A nos fazer menino de novo em voo de albatroz.

Diogo Fontenelle

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

FLORAÇÕES

Eram longos prados de espera e esperança
A fagulhar desejo de singelo poeta menino
Pela locomotiva das horas em contradança.
Eram longas dunas de leve sonho beduíno
A jorrar afetos de um camelo tresmalhado
Pela caravana da ânsia em dia de gemidos.
Hoje, são as florações de adeus desterrado
Pelo bailar das sombras dos anos sumidos.
Florações de viagem: do vivido e sonhado.


Diogo Fontenelle.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

VALE DO OURO

Para Luiz André Freire e família

Ibérico Rio Douro a adentrar Portugal pela Miranda
E a desaguar no Porto com vinhos tintos de sonhos.
Vale do Douro canário a gorjear canções em ciranda
Na rota de antigos barcos rabelo em luares risonhos.
Vale do Douro a reverenciar Lamego em pranto de sino,
Aos uivos da moura noite medieval a tanger encantaria.
 


Lamego de azulejos que sopram hinos ao Jesus Menino,
No Santuário Nossa Senhora dos Remédios em romaria.

Vale do Douro das vinhas verde-verão e ouro-outonal,
Da Miranda, Peso da Régua, Porto e Vila Nova de Gaia.
Vale do Douro ao lume do elixir da saudade manancial
Pelos raios de sol a desenhar sonhos de fina cambraia.



 Diogo Fontenelle

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

ATENÇÂO, FORTUNA CRÌTICA DO POETA

Em nome do meu- nosso! - novo blog “Poesia Flamejante, diogoflamejante.blogspot.com.br” criado sob a regência do auxílio luxuoso de Rodrigo Marques Braga, resolvi fazer o que ainda não havia feito, ou seja: vasculhar os trinta e sete anos de publicação – desde 1979 – até o dia de hoje em busca dos parágrafos mais representativos dos literatos acerca do meu eterno aprendizado poético.
Eis o resultado desse trabalho, que ofereço aos leitores Mensageiros FaceBook do Bem voltados para os horizontes azuis do viver-sonhar ao lume da Poesia.

FORTUNA CRÍTICA
Evola-se da Poesia de Diogo Fontenelle a revolta prometéica contra a vacuidade última de todas as coisas, o horror de arriscar-se à promiscuidade pública seja da empatia ou da indiferença de quem o lê. Vejo-lhe entre fascinado e estarrecido, a contemplação sonhadora aberta ao infinito de todos os sonhos, como um viajante na janela de um trem exteriormente imóvel, apático, e no entanto extremamente atento à mais leve modificação da paisagem, mesmo sem a exterior vontade de ação, mas com a transcendência do indizível.
Aírton Monte (1979)

Em cada verso do Diogo Fontenelle há uma reticência. Cabe a nós, leitor do Menino-Poeta, descobrir os caminhos que nos levam até o seu coração para vivenciar os mesmos sonhos e brincar na mesma ciranda.
José Cláudio Correia Primo (1979)

Diria que a poesia de Diogo Fontenelle é absolutamente necessária. Em primeiro lugar, por suas próprias qualidades, enquanto realização poemática, situada entre o pólo da criação e da expressão; e, em segundo, já a nível prospectivo-ideológico, por ser uma lição permanente de tolerância, de respeito e admiração, que os fazedores de outra categoria poemática e ideológica devem-lhe ter.
Adriano Spínola (1982)

Creio que Diogo Fontenelle ultrapassando, como já ultrapassou, as categorias humanas, é o último anjo da Terra. De tanto guardar em si o espírito imortal da Infância transformou-se em nuvem de seu próprio sonho. E pousa nas palavras azuis de seus poemas, transfigurando-as e enchendo-as de luz.
Não tenho, pois, a menor dúvida: estou diante de um verdadeiro Poeta. E isso em literatura é tudo.
Artur Eduardo Benevides (1982)

Diogo Fontenelle é reinventor de si mesmo, anseia por novas reinvenções, posto que é sem limites o mundo do sonho e da infância. Muito chão a escavar, muita coisa a contar.
Nilto Maciel (1982)

Diogo,
Sabe que gosto bastante dos seus textos. Gosto de frases rápidas, contundentes, enxutas. Você costuma me apanhar por isso. E ainda há ironia e emoção, de modo que tudo se completa.
Quando quero mandar bilhetes a pessoas queridas, tenho usado seus textos. As pessoas adoram.
Inácio de Loyola Brandão (1985)

A concepção da poesia como magia revela do seu cultor Diogo Fontenelle uma estética ativa. Melhor dizendo, a arte deixa de ser apenas representação e contemplação, porque passa a ser concomitantemente, intervenção sobre a realidade. Sendo a palavra poética um espelho do mundo, seu reflexo é mágico, e transforma a fonte de onde provém.
Roberto Pontes (1986)

Essa poesia de nuvens e sonhos, fadas e rezadeiras, murmura sinfonias, faz florações de azul, traz crianças em barquinhos de papel, como se o tempo fosse desdobrável. Com o se a vida fosse um fiapo de eternidade preso numa caixinha de música. Diogo Fontenelle nos devolve as sedas da infância na costura das suas palavras, no rendilhado do seu pensamento que cheira a jasmim. Suas MIRAGENS espalham melodia pelos ventos, soltam pássaros, reinventam a vida!
Aíla Sampaio (2015)

Diogo Fontenelle é um dos melhores poetas da minha geração. Sua Poesia é original e a sua efusão criativa toca, essencialmente, o etéreo, o universo dos sonhos, a camada onírica do inconsciente, o transbordamento afetivo da emoção e o estrato melódico da linguagem.
Dimas Macedo (2015)

Diogo Fontenelle trata-se de um poeta que segue por seus próprios caminhos, portanto trata-se de um legítimo poeta. A dor existencial visita-o sempre, mas contrabalança-se com um constante encantar-se com o universo.
Linhares Filho (2015)

Iluminar palavras e revesti-las de lirismo, eis a arte ímpar que nos conduz à poesia de Diogo Fontenelle.
Nesse novo livro do poeta, o azul que antes soprava encanto num universo poético de sonho e fantasia “cristal a gotejar sonho azul de criança”, por vezes ainda sobrevoa alguns versos, contudo numa boa maioria prefere afinar-se com o inquietante e profético poema de abertura, ‘Será o Outro o Estranho,/ Ou o Estranho medonho sou eu?”.
Beatriz Alcântara (2015)

Poema de Horácio Dídimo para Diogo Fontenelle
Iluminuras
E miudezas
Flautista ao longe
Luzes acesas

As piruetas
No picadeiro
O cheiro azul
Do jasmineiro

Os caramujos
São os marujos
Desta jornada

Caderno Avante:
A verde infância
Caligrafada

Horácio Dídimo (2015)

Diogo Fontenelle

domingo, 11 de dezembro de 2016

A POESIA ANTES DE TUDO

Manuel Bandeira, poeta maior, contava que aprendeu com seu pai
Que a poesia estava em tudo – tanto nos amores como nos chinelos.
Eis o sortilégio da poesia a fagulhar o sonhar que esvoaça e se esvai,
A fagulhar miudezas e grandezas entre os horizontes azuis singelos.
Segue a poesia pela infância dos retratos nos álbuns engavetados,
Pela solidão das cadeiras vazias no casario dos avós em demolição.
Poesia que é – antes de tudo – silêncio nos olhares desencantados,
Poesia que é – antes de tudo – cheiro da saudade de doce afeição,
Poesia que é – antes de tudo – labareda de verbos entreapagados,
Poesia que é – antes de tudo – melodia da voz emudecida em vão.


Diogo Fontenelle

AS REDES SOCIAIS TANGIDAS PELAS HUMANAS MÃOS

Diogo Fontenelle


É espantoso como a tecnologia da comunicação conseguiu resgatar das profundezas dos abismos humanos tanto a luz quanto a sombra. O homem, após milênios de processo civilizatório, ainda se faz fera a urdir tramas sombrias. É o Reino do Egoísmo em expansão, a emergir dos porões humanos para a Era Digital. É o homem a caçar o próprio homem, é a antropofagia!
Afortunadamente, devo considerar que as redes sociais também trouxeram a centelha do Amor ao Próximo a arder em festa. É justiça verificar que o homem contemporâneo se aproxima um do outro em busca da mão irmã perdida, em busca do afeto negado pelas imensidões da indiferença feito solidão.
Testemunho que - mais que no mundo real - os roteiros do bonde das redes sociais se mostram atuantes no equilibrar-se pela corda bamba da luz e da sombra. Ao que parece, as redes sociais conseguiram ser mais humanas – tanto para o bem como para o mal – do que o próprio dia a dia real. Creio que o homem se revela ainda mais no mundo virtual do que na rotina das vivências diárias, tantas vezes costuradas de convenções automáticas do tipo “Bom Dia” e “Como vai? – Bem, obrigado”.
Assim, venho apelar para o senso de sobrevivência da nossa espécie, daqueles que ainda se irmanam na busca pelo sonho de um ser humano mais liberto das sombras, na dimensão que somos vítimas de nós mesmos. Se é o longo o nosso caminho para a Luz, retroceder para as Trevas seria deixar de ser homem e transformar-se em Besta Fera.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

BRIGADEIRO EDUARDO GOMES

Brigadeiro Eduardo Gomes, patrono da Aeronáutica brasileira,
Vulto sagrado da heroica sublevação do Forte de Copacabana,
Homem de página escrita com bravuras em nome da bandeira.
Mas, o Acaso veio colorir o nome de Gomes de forma profana
Com chocolate, manteiga, dourada ternura e leite condensado.
Num pleito eleitoral de Gomes, foi criado um doce de padeiro,
Qual divino bombom caseiro para os eleitores feito criancinha.
Gomes perdeu a luta, mas o doce ficou chamado “brigadeiro”.
Quis a fortuna que o militar fosse mais lembrado pela cozinha
E no nosso olhar de menino a esperar o circo pelo travesseiro.
Eduardo Gomes, o herói nacional feito doce mimo da vozinha.

Diogo Fontenelle

A LOBRAS DA PRAÇA DO FERREIRA

 
 Era a tremeluzente Lobrás da Praça do Ferreira,
Encantada loja com escada rolante em Fortaleza,
Alumbramento infantil qual sonhos em fogueira.
Andar de escada rolante ao gorjear da surpresa
Era folia da manhã de sábado, cortesia de Deus.
Lobrás dos brinquedos dourados nas prateleiras,
Do bolo de anis, do Papai Noel me dando adeus.
Adeus foi o que ficou daquelas manhãs faceiras,
Daquele sonho-menino a dourar os olhos meus.

Diogo Fontenelle

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

VICENTE MATHEUS E SEU VERBAL


Vicente Matheus, o célebre líder do futebol brasileiro
Era singular esgrimista do verbal à luz da incoerência,
Um caçador de pérola do absurdo em despenhadeiro.
Matheus profetizava do alto da sua ciência indomável:
“Aqueles que saem pela chuva deverão se queimar”,
“O Sócrates é um jogador invendável e imprestável”,
“Tive oito “gestações” a frente desse time exemplar”.
Foi-se o fulgurante Matheus e ficou a sua notoriedade,
O ingênuo estilo de ser, o curioso “marketing” pessoal.
O “estilo Matheus” não era apenas baixa escolaridade,
A história do futebol passa pelo Matheus e seu verbal.

Diogo Fontenelle

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

SONHAR COM REI DA LEÃO

“Sonhar com anjo dá borboleta
Sem contemplação
Sonhar com rei dá leão.”
(Neguinho da Beija Flor)
O Barão de Drummond construiu um jardim de animais
No Rio de Janeiro do século dezenove singelo e cordial,
No bucólico bairro Vila Izabel de serenatas e madrigais.
Logo, o Barão criou um sorteio para atrair público local,
Cada visita recebia um bilhete com um bicho do jardim.
Assim, o sorteio foi sucesso além fronteira fluminense.
Eis que nasceu o jogo do bicho a florir desejos de cetim,
Brasileiríssimo jogo a luzir sonhos de domingo circense.
Como revela o samba carioca: “Sonhar com rei dá leão”.
De sol em sol, vamos ziguezaguear o labirinto peregrino,
De sonho em sonho, vamos dedilhar o violeiro coração,
De luar em luar, vamos revoar no faz-de-conta menino.

Diogo Fontenelle

A NOIVA DE HELICÓPTERO


 

Eis que, brada o noticiário televisivo da rede Globo:
Cai um helicóptero com moça vestida de noiva bela,
Na nave da igreja, esperava um noivo aflito e bobo.
É enredo da vida real à luz de um drama de novela.
Quis o caprichoso Acaso tecer um cenário inusitado
De um casal para sempre descasado a beira do altar.
E a vida imitou a Arte em ritmo de tango ou de fado,
Em alvos véus de tule, em nuvem de dourado sonhar.
Partiu a noiva pelos ares nas rotas do Azul Encantado
Por teares de tragédia grega revisitada ao Deus Dará.

Diogo Fontenelle.

sábado, 3 de dezembro de 2016

ALHAMBRA

Para Marcio Catunda menestrel oriental.
Eis as ruínas do último baluarte dos reis mouros
A tremeluzir em Granada aos gorjeios do Alcorão.
Alhambra, sagrada cidadela de risonhos tesouros,
Dos pátios perfumados de aloé, jasmim e açafrão.
Alhambra dos palácios enluarados entre amores e dores,
Da Câmara das Duas Irmãs presas no sem fim da solidão.
Alhambra dos arabescados entre mosaicos de sete cores,
Do lago azul-abril ornado de murtas e da fonte feito leão.
Alhambra do harpejar dos peixinhos verdes em cigania,
Dos arcos em forma de favo de mel a filtrar luz multicor.
Alhambra da janela aberta para os prados da Andaluzia,
Do melodiar árabe-berbere-ibérico em dourado sol pôr.

Diogo Fontenelle