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sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

MEU REINO DE FUNDO DE QUINTAL


 
No casario onde nasci, fiz o meu reino no fundo do quintal.
Era o Reino das Imaginações, o pequeno cantinho de chão
Que cabia rios e mares tangidos por fantasia em vendaval.
Naquele reino de um cajueiro só, tudo era dourada visão.
Era o Reino do Grilo Falante nos prados do Faz de Conta,
Do castelo azul com torres e salões em labirintos sem fim.
Naquele Reino, tudo era segredo meu, magias sem conta,
Eu era cavaleiro andante por canteiros de romã e jasmim.
Tanto nos Reinos Encantados como na rude vida tediosa,
Vem o Dragão do Tempo com sua língua de fogo carmim
A devorar os sonhos de menino, de infâncias cor de rosa.
Mas, meu Reino sumido no Além, ainda espera por mim.

Diogo Fontenelle

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

NO COLO DA VOVÓ

 
Muitos sonhos desaguaram, mas ainda recordo bem...
No colo da vovó a ouvir o conto do Sabiá de Fogo Azul,
Eu revoava até as misteriosas alturas à beira do Além,
Sonhava acordado pelos reais jardins do Califa Abdul.
Transluzia o Sabiá de Fogo Azul a incendiar meu olhar,
Força angélica dos ventos a bramir no coração infantil.
Vinham também os elfos do jardim, as sereias do mar,
Os unicórnios da floresta e o dragão chinês cor de anil.
No colo da vovó, eu alumbrava seres de luz prata-luar.
Vovó e eu éramos embarcadiços da invernia azul-abril.

Diogo Fontenelle

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

ALGUÉM ME DISSE...

Algum poeta me disse outrora e sou grato em boa hora:
Que o menino que brincasse com fogo ia urinar no leito,
Que o satanás estava no meio do redemoinho da aurora,
Que carinho de mãe baixava a febre do filho contrafeito,
Que se o Brasil não eliminasse as saúvas do formigueiro,
As saúvas eliminariam o nosso Brasil garrido e trigueiro,
Que depois da lua cheia, surgia mais uma estrela no céu,
Que a vida não é só isso que se vê partindo em carrossel,
É algo muito mais além do verde horizonte em pradaria,
É a sinfonia de Deus feito raio de sol, raio azul de poesia.

 DIOGO FONTENELLE